terça-feira, outubro 06, 2009


Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), psicólogo norte-americano, fundador da vertente conhecida como behaviorismo radical, formou-se em Letras e posteriormente, ao ler os estudos de Watson e Pavlov sobre o condicionamento respondente e o comportamento, matriculou-se no doutorado em psicologia com o propósito de seguir essas explorações acerca do comportamento.
Diferente de Watson, o pensamento de Skinner fica bem explicitado em sua obra, Ciência e comportamento humano (science and human behavior, 1953), onde ele difere a sua teoria da teoria do S-R de Watson (estímulo-resposta), que ele mesmo considera bastante reducionista. Na proposta de Skinner, o comportamento é sim determinado (probabilisticamente) por variáveis ambientais, mas não apenas isso, as conseqüências produzidas pelo comportamento também determinam a ocorrência e freqüência do comportamento; operacionalmente isso significa que:

Ambiente – Comportamento – Conseqüências

Esse conceito ficou conhecido como condicionamento operante, segundo o próprio Skinner. O que torna importante o condicionamento operante é o fato de que nele o sujeito não é apenas um receptor passível dos estímulos, mas um agente ativo, que opera e modifica o ambiente que está inserido – é nessa perspectiva que se pode falar do behaviorismo como uma proposta bastante humanística, pois concebe o homem sem determinismos, além disso, como diz o próprio Skinner, levanta a possibilidade de compreender o homem apenas sujeito por sujeito, pois mesmo que haja paradigmas na análise do comportamento, os conceitos são arbitrários e só podem ser entendidos em função de condições históricas e ambientais exclusivas de cada indivíduo.
Apesar de o behaviorismo radical adotar o método científico como fundamentação de seus estudos e havendo uma dimensão do behaviorismo, a análise experimental do comportamento, que se atém ao estudo experimental do comportamento de animais humanos e não-humanos, isso não é exclusivo; busca-se através da experimentação, tecnologias que possam não apenas compreender, mas melhorar as condições da vida humana e da sociedade. O behaviorismo não é apenas uma psicologia animal, pelo contrário, preocupa-se com o comportamento humano e suas relações de significado – compreende o sujeito a partir das relações comportamentais estabelecidas, ou seja, em função “de que” as pessoas se comportam de determinados modos.
Com isso, temos uma primeira crítica que é muito dirigida ao behaviorismo radical, que é de que o behaviorismo despreza ou desconsidera o pensamento, sentimentos, a mente ou quaisquer estados do mundo dentro da pele, o que é uma incompreensão, pois o behaviorismo apenas não se atém a essas variáveis como explicação do comportamento, mas na verdade acredita que esses estados também devem ser explicados (de onde vem os sentimentos, a vontade, motivação, etc), sempre se voltando para o ambiente como causa e manutenção dos comportamentos, sejam eles observáveis ou não; lembrando que, no behaviorismo entende-se ambiente por todas as variáveis, estejam elas presentes ou não, históricas e/ou culturais que possam controlar e manter determinados comportamentos.
Para essa compreensão, é importante fixar alguns pontos sobre o behaviorismo radical:

- O behaviorismo considera os afetos, emoções, motivação, pensamento entre outros estados internos, não como causas para o comportamento, mas são eles também, frutos da relação do sujeito com o ambiente;
- O objeto de estudo da análise do comportamento não é exatamente o comportamento, mas as suas relações, as variáveis que controlam e mantém os comportamentos;
- A subjetividade no behaviorismo não pode ser entendida como uma entidade e sim como um estado, que está em função de variáveis ambientais, sejam elas filogenéticas, históricas e culturais. Com isso, nenhum sujeito é igual a outro no behaviorismo radical, pois não há ninguém que tenha sido exposto exatamente as mesmas condições ambientais – esse pressuposto faz ver o quanto o behaviorismo é humanístico no seu modo de enxergar o sujeito, sem determinismos e sim determinantes do comportamento.

Apesar das tantas críticas direcionadas ao behaviorismo de Skinner, inclusive por parte dos psicólogos humanistas, acredito que essas proposições começam a nos ajudar a ver o que realmente é o behaviorismo radical, e como sua concepção de homem e de mundo pode se encaixar num entendimento humanístico da psicologia e do estudo do comportamento, onde privilegiamos sempre o ser-humano em sua individualidade, livrando-se de qualquer tentativa de controlar nosso comportamento com concepções mentalistas, não arbitrárias e que postulem o produto pela causa.
E falando em visão de homem e de mundo, esse é o assunto de nosso próximo texto, em que explicaremos melhor como o behaviorismo concebe o homem e a realidade, deixando apenas uma frase que já reflete um pouco essa concepção:

Uma pessoa não é um agente originador; é um lócus, um ponto no qual muitas condições genéticas e ambientais se reúnem em um efeito conjunto. Como tal, ela permanece inquestionavelmente única. Ninguém mais (a menos que ela tenha um gêmeo idêntico) tem sua dotação genética e, sem exceção, ninguém mais se comportará precisamente da mesma maneira. Nós nos referimos ao fato de que não há ninguém como ela enquanto pessoa, quando falamos de sua identidade.
- B. F. Skinner

1 comentários:

  1. adorei o paralelo com a visão humanista, engraçado que quando você diz que a analise do comportamento é uma abordagem totalmente volta para o individuo, me recordo de uma conversa com o professor Marcio Borges, que disse "a analise do comportamento é a abordagem que mais trabalha com a subjetividade, a partir do momento que entende cada história de vida é única, e mesmo com tantas tecnicas, você no consultório se depara com histórias de vida muito distintas, e de acordo com elas ocorre a intervenção". Diria ainda mais da analise do comportamento, ela vai muito alem de skinner, as formas de se trabalhar na clinica, como a act ou fab, são pesquisas com humanos. Muito boa suas colocações e principalmente de começar a quebrar a primeira critica feita ao behaviorismo, que na minha visão é infundada, quando se conhece a teoria, sentimentos também são comportamentos, e você explicou muito bem isto. parabéns, e espero para ler os proximos textos

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