Na posição esquizo-paranóide, descrita pela psicanalista Melanie Klein, em resumo, existe a ansiedade paranóide. O ego se encontra fragmentado, em busca de um objeto gratificador. Essa fragmentação do ego se dá por sua estrutura, composta por muito mais frustrações que gratificações. O ego se estilhaça em busca de algo que possa dar gratificação a ao menos um de seus "pedaços". O estilhaçamento do ego é como uma tentativa desesperada de escapar da patologia. A quantidade excessiva de frustrações traz ao ego uma sensação de aniquilação.
O bebê enxerga o seio da mãe como primeiro objeto. No caso da posição esquizo-paranóide, este objeto foi muito mais frustrador do que gratificador (é o que Klein chama, em sua teoria, de seio mau). Ele pode ter demorado demais para atender aos seus desejos, pode não ter sido nutritivo, acolhedor, amoroso. Então é gerada uma ansiedade extrema por algo que seja bom. Mas todos os objetos introjetados pelo bebê são maus, e isso é externalizado. Ao passo em que ele projeta no seio sua frustração, responsabilizando-o por sua frustração. E então tem fantasias agressivas de arranhões, mordidas, rejeição a este seio.
O excesso de gratificação também não é positivo. Na adolescência, por exemplo, onde todos os limites são contextados. Se não houver limites, o perigo se instala. O excesso de gratificações pode fortalecer a fantasia onipotente do bebê. Fantasia onipotente é outro traço bastante relevante na posição esquizo-paranóide, a sensação de onipotência é perigosa. Por outro lado, quando a frustração é excessiva, gera a fantasia de agressão ou a agressão de fato.
Nas mulheres há uma relação ambivalente. Ao mesmo tempo em que a mãe é um objeto de amor, é um de ódio. Há rivalidades e diferenças grandes com esta mãe. O que faz a menina tender a uma opção heterossexual, inclusive. Entender a importância da passagem por esta posição, possibilita-nos compreender a formação, a estrutura psíquica que constitui o indivíduo. O que refletirá, sem dúvida, em situações futuras.
Traçando um paralelo com a prática, porque a psicanálise exige de nós uma capacidade de abstração que, reconheço, é difícil alcançar limitando-nos à teoria, falarei do filme "Uma Mente Brilhante", que ilustra muito bem a teoria de Melanie Klein acerca do tema em questão.
O filme trata da vida de John Nash, que é um matemático americano genial. Ele se encontra na posição esquizo-paranóide. Nash era esquizofrênico e apresentava alucinações visuais. Ele tinha idéias delirantes, que consistiam em falsas crenças, não corrigidas pela confrontação com a realidade, que tendiam a se difundir e ir tomando conta da mente. No caso tratado, Nash via, principalmente, três pessoas (Charles, sua sobrinha e Parker), mas seu delírio mais preocupante era o de perseguição. Havia, no seu entendimento, uma conspiração e ele estava empenhado em descobri-la. O interessante é que somos colocados dentro da mente de Nash. O filme trata a esquizofrenia do ponto de vista do esquizofrênico. Todas as visões que ele tem nos parecem reais também. O espectador acredita nas visões de Nash.
Quando está no auge de seu problema psiquiátrico, Nash acredita estar trabalhando para o serviço de inteligência americano, contra os russos. Assim, nada mais parece ter importância, nem a família, nem a continuidade de sua vida acadêmica. Tudo o que ele quer é descobrir uma bomba que vai explodir em qualquer lugar dos EUA. Nash acredita que, com sua inteligência, só ele poderia decifrar códigos publicados em revistas. O que nos dá mais uma pista da posição esquizo-paranóide em que ele se encontra, o delírio de grandeza, sua fantasia onipotente, sua megalomania.
Os três personagens que Nash vê podem ser entendidos como sua personalidade dividida, cada um representando um aspecto. Charles, tudo o que Nash gostaria de ser, seu ideal de ego. A menina, um superego infantilizado. E Parker, seu Id, dando vazão a sua megalomania, o fazendo acreditar que era o único que detinha o poder de decifrar os códigos para o governo. O que gera, mais à frente, seu delírio de perseguição.
Em meio a tudo isso, existe Alícia, sua esposa, que é quem procura mostrar a ele tudo o que é real. É seu objeto bom, gratificador. E em determinado momento do filme, ela lhe dá um lenço, que é a representação simbólica do objeto bom introjetado. E é com a ajuda dela que ele consegue aprender a separar o que é real da fantasia. Por fim, ele não deixa de ter as alucinações, mas aprende a lidar com elas de forma que não o perturbem mais. Alicia nos confirma a idéia da importância da gratificação para um ego extremamente fragilizado e fragmentado. É seu objeto de amor que o ajuda a, de alguma forma, vencer a patologia.
Marina Feitosa
Quel lindo! adorei o blog! E da pra matar um pouco da saudade de pessoas especiais por aki! Idéia brilhante a de vcs! Mayara
ResponderExcluirConcordo, muito bom. Mas não esqueçamos da contribuição dos antipsicóticos para melhora do Nash. As teorias psicanalíticas são bonitas mas não tiram esquizofrênicos de surto algum
ExcluirMáh, me impressiona a sua capacidade de síntese das idéias e a clareza com que as expõe. Poxa, é sacanagem: passei várias aulas estudando isso com uma prof. de psicanálise e não compreendí, agora aqui, em um texto curto, eu conseguí entender o conceito. Muito bom o texto, parabéns!
ResponderExcluirEsse filme é ótimo!!
ResponderExcluirLegal o blog, ficarei de olho! :)
o blog esta o maximo, sou estudante de psicologia e estamos estudando Melanie Klein agora,adorei as materias que li! felicidades para voces! continuem assim!
ResponderExcluirGostei muito do texto, simples, direto, de fácil compreensão... a citação do filme é relevante.
ResponderExcluirResumido mas eficiente, parabens....
ResponderExcluirPARABÉNS, esse blog está muito rico de conteúdos. Está me ajudando bastante a tirar dúvidas.
ResponderExcluirProcurei por este blog por causa do meu pai que sofre, e com ele toda a familia ,de esquizofrenia ,ele aha que os vizihos vao mata-lo tomar a casa dele que falam mau dele ,entre outras coisas sem sentido.
ResponderExcluirDa próxima vez tenta abordar o sexo esquizo-paranoide, e retratar a posição esquizo-paranoide com fotos.
ResponderExcluirum abraço de Goiânia.
amei o blog. riquíssimo em informações...curso psicologia e curto muito esse assunto de esquizofrenia..
ResponderExcluiradorei o resumo.... muito eficiente
ResponderExcluirParabens muito bom!!
ResponderExcluirTenho um trabalho para apresentar sobre este tema e adorei esta explicação, com o exemplo do filme ajudou-me no entendimento. Muito bom. abraço.
ResponderExcluirTexto genial, não posso deixar de citá-lo em meu TCC. VGO
ResponderExcluirMuito esclarecedor o texto, com uma linguagem muito simples, clara e coerente. Estudo psicologia tbm, embora seja de outra abordagem tenho que estudar psicanálise e achei muito bom para usar como auxílio em meus estudos. :)
ResponderExcluirGostaria de saber quais as referências bibliográficas utilizadas para realizar este texto que, por sinal, está muito bom!
ResponderExcluirCaro anônimo: pelo que observei a Marina Feitosa fez uma análise do filme Mente Brilhante e tem outros muito bons assim como o filme: fragmentado, O PERSONAGEM kEVIN apresenta 23 personalidades diferentes.
ExcluirEu sou apenas uma amadora de psicologia, infelizmente ainda não estou cursando. porém sou apaixonada pela psicanalise, como estudo sozinha, esses textos claros e com bons comentários são ótimos para mim.
ResponderExcluir:))
ResponderExcluirEu sou psicoteóloga, amo a psicologia e a psicanálise, assiste o filme Mente Brilhante e amei toda esta explicação, valeu obrigada.
ResponderExcluirSeria bacana você realizar a análise do filme SHAME (2011)
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