Nos dias de hoje, onde as noticias inflamam acerca das possibilidades de emprego e carreira profissional, é enumerado um numero infinito de características de personalidade as quais o neófito do mercado de trabalho deve possuir para que ingresse no mundo da autonomia, que afinal é o que todo ser humano busca quando se depara com a realidade do mundo de hoje. Muitos questionamentos surgem na consciência dos jovens como: O que devo fazer da vida? Em que eu sou realmente bom?
Todos esses questionamentos obrigam o sujeito a voltar seus olhos para o que faz, e mais do que isso, para o que é. Nesse sentido não podemos separar a vocação, ou o fazer daquilo que somos. Tal aprofundamento reflexivo obriga muitos jovens a começarem a se testar, se experimentar em relação ao seu fazer, onde este último lapidará o ser desvelando aquilo que seu self possui de mais valioso nesse período da vida, a vocação.
A etimologia da palavra vocação nos remete ao ato de chamar, invocar. Nesse sentido a vocação pode ser entendida como as aptidões e talentos que possuímos inconscientemente como potencialidades psíquicas, que se devidamente cuidadas e “aguadas” podem dar muitos frutos. Não estou querendo aqui, determinar que as profissões são predestinadas dentro de cada individuo, muito pelo contrário, sabemos hoje que o ambiente tem uma grande importância na determinação do desenvolvimento das habilidades e talentos necessários, porém a mesma importância tem a personalidade de um sujeito. Isso ficará mais claro para o leitor quando nos deparamos com pessoas extremamente bem sucedidas no trabalho mas que este último não mais supre as necessidades da alma. Por isso, é de grande importância que o aspirante no mundo do trabalho tenha a possibilidade de acesso às múltiplas práticas profissionais existentes em nossa sociedade, se este sujeito começar por aqui já podemos reconhecer um primeiro passo.
Porém reconhecemos nós psicólogos que muitos estacionam justamente nessa fase, a de deslumbramento das profissões, onde todas dizem de um aspecto de suas personalidades e portanto se tornam caminhos possíveis. Isso tende a acontecer justamente com aquelas pessoas mais sonhadoras e idealistas. Não digo que isso é negativo já que enumerei como um primeiro momento do processo de desenvolvimento profissional.
Outro fator determinante e que permeia toda essa caminhada arquetípica em que o herói descobre seu caminho a ser trilhado, é a identificação em si das habilidades e características principais que possam determinar alguma coisa no mundo social. Isso implica um deslocamento do olhar para as dimensões mais profundas da pessoa, aquilo que ela realmente é capaz. Aqui o caminho se torna um pouco mais complicado já que dependendo do tipo psicológico da pessoa, o caminho é trilhado de diferentes formas. Em toda a história da humanidade as pessoas sempre sentiram a necessidade de tipificar as coisas, de determinar um lugar e nomear segundo várias características, uma forma de agir no mundo (atitude essa que na contemporaneidade se torna rara). Assim um psicólogo suíço chamado Carl Gustav Jung enumerou dois tipos de atitudes da consciência (extroversão e introversão), e quatro funções da personalidade as quais duas são formas de percepção do mundo (Sensação e intuição) e outras duas formas de julgamento (Pensamento e sentimento).
Assim as características se misturam e geram uma combinação de atitude-percepção-julgamento, onde a primeira diz respeito a maneira que a pessoa se configura e se organiza antes que qualquer julgamento possa ser emitido, a atitude é um comportamento reativo a priori. Assim os extrovertidos se sentem relaxados dentro de qualquer situação que envolva contato social, são pessoas que são extremamente influenciadas pelas convicções e idéias sociais, e possuem uma grande fluência no que diz respeito ao reconhecimento e confiança nas coisas externas. Já o introvertido faz o movimento contrário, são hesitantes e inseguros nas relações sociais, mas possuem um tipo de visão e entendimento extremamente originais, possuem uma atitude reservada e questionadora, seu mundo real é o das imagens interiores.
Já as funções de sensação e intuição são excludentes, ou o indivíduo desenvolve mais uma ou outra, onde a primeira diz respeito a todas aquelas pessoas que dependem muito dos sentidos da visão, audição, tato e olfato para reconhecerem algo como real, estão sempre buscando a estimulação dos sentidos, são observadores e imitativos, são aqueles que precisam ver pra crer. Já os intuitivos são muito reconhecidos no campo das artes, já que possuem uma maior inspiração, geralmente são “voados” e imaginativos, as impressões dos sentidos são levadas em consideração somente quando associadas a algum fato de grande importância que é pré-sentido, privilegiam as possibilidades futuras de uma dada situação.
Dentro da esfera dos julgamentos o tipo pensamento contrapõe o tipo sentimento, onde o primeiro diz daquelas pessoas que dão muito valor as idéias e a lógica das coisas, são mais frios e distanciados em relação aos afetos, preferem dizer a verdade nua e crua ao tentar vela-las, muito questionadores de idéias e oferecem suporte a ciência e tecnologia. Já os dos segundo grupo (sentimento), se localizam no hemisfério oposto, onde os sentimentos são mais valorizados, eles são mais interessados nas pessoas do que nas coisas, lideram movimentos humanitários e possuem grande empatia.
Senti a necessidade da descrição conceitual, mas que não se separa da experiência, das formas mais simples de conhecimento do mundo. Logo um extrovertido, sensação e sentimento poderia se dar muito bem na política, na administração e em diversas atuações onde a empatia, o reconhecimento do outro e uma atitude relaxada frente ao social, fosse determinante. Porém uma pessoa com essas características poderia se atrair muito mais por áreas que privilegiam justamente o oposto, como ser um escritor, ou se dedicar as artes plásticas. Nesse sentido ele tenderia a criar algo diferente dentro das artes, ser criativo nesse campo, já que iria destoar da maioria. E hoje onde até mesmo o extrovertido-sensação deve ser criativo em um grupo de trabalho, a intuição se torna também muito privilegiada. Assim chegamos à conclusão que existem infinitas possibilidades para que a pessoa possa se desenvolver dentro de uma dada profissão.
Porém, nossa discussão é sobre como a pessoa poderia descobrir sua vocação. Como eu havia dito antes, é uma questão de conhecimento, identificação (que envolve empatia) e finalmente a escolha profissional. Assim chegamos à conclusão de que o fazer não se separa daquilo que a pessoa é, ou pretende ser. Enumerei esses passos de forma didática mas na realidade tudo acontece a todo tempo e se mistura ao constante desvelamento daquilo que se é.
Esse conhecimento de si acontece nas ocasiões mais simples da vida, onde em uma conversa com os amigos descobrimos muitas de nossas capacidades, de nossos interesses. Saber se expressar, ser empático, ter ambição, ou até mesmo sozinho as idéias brotam em nossas mentes, podemos vislumbrar que através das idéias e inspirações surge uma prática nova como redigir um texto, em um momento desses a pessoa descobre que lida bem com as palavras, ou até com conceitos abstratos. Enfim a questão é que o último passo, a escolha, a definição do que se quer seguir perpassa pela experimentação de si na vida, tanto social como intima, a partir daí certas capacidades vão tomando forma e somente quando essas formas encontram uma expressão no mundo da práxis é que temos uma idéia do que nos identificamos realmente. Assim se configura a vocação, o destino ao qual vai seguir, onde para sabermos o nosso caminho, é necessário conhecer de onde partimos, como em uma caminhada, mas é importante lembrar que o destino nessa viagem rumo ao interior é pouco importante, na verdade o caminho deve ser mais estimulante.
Não sei como pecisar a escolha de absolutamente nada e muito menos de uma profissão. Mas sei que hoje os critérios adotados por aí, segundo comversas esparamadas pela vida, são por demais materialistas, para não dizer financeiros, e por isso mesmo perversos demais para o meu pensar.
ResponderExcluirCadinho RoCo
A descoberta da vocação profissional é um processo muito complicado pois envolve um auto-conhecimento precoce. Aos 18 temos que descobrir quais são nossas caracteristicas.Creio que se leva mais tempo que isso para se auto-conhecer, até porque, as vezes demoramos para atingir uma maturidade para perceber que a escolha vocacional envolve conhecer a propria mente.
ResponderExcluirNo meu blog eu tento falar do meu conflito. Gostaria que opinassem, inclusive falando da escolha de voces proprios.
http://metaambulante.blogspot.com/