segunda-feira, julho 06, 2009

Uma casa no fim do mundo (Home the end of the world, 2004) do diretor Michael Mayer, traz para a tela um período de transição entre os anos 60 até os anos 80, delineando através das roupas, música até o uso de drogas como a LSD, nuances culturais da época. Em meio a todos esses envolvimentos, dois adolescentes, Jhonatan e Bobby se conhecem no colégio e iniciam juntos diversas descobertas: Do uso de drogas a experiências homoeróticas, os garotos constroem uma relação singular de amizade até a partida de Jhonatan para Nova York, deixando Bobby em Neverland com seus pais, uma vez que Bobby havia perdido os pais quando criança. Anos depois os pais de Jhonatan se mudam de Neverland, fazendo com que os garotos, agora já crescidos, se reencontrem em Nova York e dividindo a mesma casa, comecem a reviver experiências do passado.
A história de ficção de Bobby e Jhonatan possibilita uma discussão sobre a homoafetividade na ótica behaviorista radical. A noção de homoafetividade como homoerotismo começou a ser utilizada pelo psicanalista Jurandir Freire Costa, em seu livro A inocência e os vícios: Um estudo sobre o homoerotismo (Relume-Dumará, 1992), que buscava exatamente reavaliar a homossexualidade, começando pelo termo, uma vez que a homossexualidade designava um termo médico do início do século XX, que aponta apenas para a cópula entre pares do mesmo sexo, não implicando numa relação considerada afetiva ou ainda conjugal. Após isso, diversos autores da sexualidade passaram a estudar o fenômeno das homossexualidades considerando-o como uma relação de homoafetividade.
A diferença fundamental do behaviorismo radical de outras epistemologias da psicologia refere-se ao estudo de eventos privados, que foi considerado por Skinner como o “mundo dentro da pele”, ou seja, aqueles eventos que ocorrem, mas não são passíveis de observação, a não ser pelo sujeito que se comporta. Diferente do que se pensa, o behaviorismo radical não apenas considera esses eventos, mas lhes dá importância nas relações de contingência em que as pessoas se comportam, contudo, eles não são considerados no behaviorismo radical, como causa direta para os comportamentos públicos; para que as pessoas se comportem, é preciso que haja condições históricas e culturais, além de variáveis genéticas/biológicas que possibilitem os comportamentos. Considerando o termo homoafetividade, numa perspectiva behaviorista, podemos entender como uma relação entre pares do mesmo sexo que implique não apenas em cópula, mas também em evidências públicas de afeto entre esses pares.
Durante a obra cinematográfica em questão, após o reencontro de Jhonatan e Bobby, são diversas as evidências de afeto consideradas eróticas entre eles, como o momento que Bobby tira Jhonatan para dançar, os carinhos de Jhonatan em Bobby, até o momento que depois de anos eles voltam a beijar-se. É importante lembrar que na trama, apenas Jhonatan se considerava homossexual, “assumindo-se” publicamente como tal, além de buscar parceiros sexuais do mesmo sexo, ao contrário de Bobby, que ao chegar em Nova York e começa a ter um caso com Nancy, que divide o apartamento com Jhonatan. Isso se dá em função de condições diferentes as quais os dois foram expostos, mesmo que suas primeiras experiências de caráter homoerótico tenham sido juntas, Jhonatan se muda para uma cidade maior, vai para faculdade, ou seja, acessa condições ambientais que possivelmente possibilitaram esse comportamento, diferente de Bobby que manteve-se em Neverland, sua cidade de origem.
Independente dessa condição de “assumir-se” ou não como homossexual, o behaviorismo radical considera a partir da compreensão dos eventos histórico-ambientais e culturais, que a ocorrência de comportamentos sexuais que diferem da orientação sexual do sujeito é passível a qualquer um em diferentes períodos da vida, sempre em função de condições que possam controlar seu comportamento de busca de parceiros. Apesar de seu namoro com Nancy, Bobby evidencia o que realmente sente por Jhonatan quando esse vai embora sem dizer nada; ele passa a se mostrar mais calado e até mesmo “agressivo” em palavras com Nancy, o que é comum numa relação de perda de reforçadores; a partir daí sua relação com a garota passa a ser de esquiva a condição aversiva a que foi exposto com a ida repentina do companheiro.
O desfecho do filme se dá no entendimento de uma relação de afetividade que transcende os gêneros: Bobby reencontra Jhonatan em função da morte de seu pai; eles voltam a morar em Neverland e mesmo com Nancy, Bobby que antes quase não evidenciava seus afetos (talvez por não adquirir bom treino discriminativo durante sua história de vida), passa a evidenciar o tempo todo seu carinho por Jhonatan, demonstrando o quanto essa relação lhe era reforçadora, valorizando-a. Nancy decide ir embora com Rebecca, filha dela com Bobby, deixando os dois na casa que compraram em Neverland, pois apesar de não ser possível “ver o amor” enquanto entidade, as evidências públicas de sua existência a faziam perceber quem realmente Bobby estava amando.
No behaviorismo radical, afetos entendidos como “paixão”, “amor”, “tristeza” ou quaisquer outros são estados respondentes despertos de uma relação de contingência. A relação com Jhonatan era evidentemente reforçadora para Bobby, o que lhe fez com tempo relatar sentimentos e emoções que culturalmente um homem apenas relata ao uma mulher e vice-versa, o que faz compreender o entendimento da sexualidade no behaviorismo radical: A sexualidade, tal quais os afetos não são entidades, mas são estados que o sujeito experimenta dependendo de variáveis filogenéticas, históricas (do ambiente e da história de vida) e culturais que controlam os comportamentos, inclusive os de busca de parceiros; com isso é possível traçar perfis da homossexualidade sem buscar explicações morais calcadas em aspectos do “normal” e “desviante”, mas compreender finalmente, a homoafetividade como uma relação que não envolve apenas a genitalidade, mas uma série de outras condições que qualquer observador atento pode compreender como uma relação de afetos.

3 comentários:

  1. Muito bom texto! E gostei muito do visual do blog também!

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  2. Pow, galera, não conheço todos vocês, mas Mah e Chris (os que eu conheço), tá muito show o seu Blog!!! Começou muito bem!
    Parabéns pelo texto! Vou passar sempre por aqui!
    Eu, que não sou da área, entendi bem o texto e ficou muito bem escrito!!!
    Enfim, Mah, Chris, Renato e Lu, que belo blog! Ótimo template, ótimos textos, sem erros nem nada...
    Elogios demais, viu!
    Abraços e prazer em conhecer vocês, Lu e Renato!

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  3. Olá! Sou gaúcha e estudante de filosofia. Encontrei o blog de vcs e achei mto interessante. Interesso-me por psicologia analítica. Li algumas postagens no blog do Renato, assim como postagens no blog do Chris. Deste último blog, interessou-me a fenomenologia,pois o autor que escolhi para fazer minha mono, bebeu da fenomenologia, e tbm pq gosto de Clarice Lispector e F. Pessoa.

    Tá show o blog de vcs! Ou como se fala aqui nos pamapas: tá bueno barbaridade!!

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