sábado, outubro 24, 2009

A inveja é um sentimento extremamente primitivo, imediato e voraz. A ação invejosa tem sempre, por trás, um conteúdo agressivo. Inicialmente, o bebê tem o seio da mãe como objeto ideal. Então ele passa a querer ter o seio. Quando a mãe sai, desperta no bebê um desespero. Ele fica constantemente ansioso e quer reter a mãe. Klein encontra aí as raízes primitivas da inveja - o movimento de arrancar do outro para ter para si.

O comportamento invejoso visa retirar a bondade dos objetos a fim de introjetá-la. Ao se questinar sobre a necessidade de ter algo que deseja, a conclusão nos diz que aquilo vai nos trazer algo de bom. Entre mulheres, por exemplo, é comum que uma amiga elogie o sapato da outra e pergunte onde ela comprou porque deseja um igual, ou do mesmo estilo, ou da mesma cor. Essa parte é até saudável. Agora, no movimento agressivo de retirar do outro, o objeto bom e ideal se torna mau e destruído. O bebê introjeta objetos destruídos, o que gera um ciclo prejudicial. Ao ter os mundos interno e externo destruídos, o ego se estilhaça buscando um objeto de gratificação. Já falamos sobre estilhaçamento de ego no texto sobre posição esquizo-paranóide.

O que diferencia, basicamente, a inveja do ciúme é que o ciúme é uma relação de três elementos (eu, o outro, e um terceiro que me ameaça de perder o outro), e a inveja, de dois (eu e algo que quero ter ou ser).



Existe uma relação saudável com o sentimento de inveja, indo além do significado comum que a palavra tinha até então. Inveja é algo que todos sentem, mas sentir é diferente de atuar sobre ela. Sentir inveja não faz de alguém um invejoso. A voracidade e agressividade existentes por trás de um comportamento invejoso é o que é extremamente prejudicial e negativo. Já que você quer o objeto para si e para isso realiza comportamentos agressivos.



Todos têm inveja, todos desejam algo que não têm. Isso é natural, humano. O que nos diferencia do bebê é nossa capacidade de reconhecer a inveja que sentimos e não alimentá-la, ou canalizá-la. O bebê não pode dizer: -"Nossa, eu quero muito isso. Mas posso trabalhar para conseguir e não preciso arrancar do outro." Nós podemos. Mesmo que se queira muito um objeto, tirar do outro nem sempre é a única maneira de ter.



Parece contraditório, mas é preciso reconhecer sentir a inveja para não se tornar um invejoso. 


Marina Feitosa



4 comentários:

  1. Olá,Mah

    Adoro psicologia.Quase me tornei-me psicóloga,mas,acabei optando por Assistência Social.Mas,nunca perdi o "divã" de vista!
    Parabéns!Vou seguir o Blog de vcs e linkar no meu,ok?
    Veja bem,minha proposta no meu blog é bem outra!

    Bji

    ResponderExcluir
  2. Ai que papo alcachofra ... urgh !

    ResponderExcluir
  3. Parabéns. Melanie Klein é das psicanalistas, a meu ver, mais dificeis de compreender principalmente devido à sua terminologia complexa que tanto utiliza. Contudo, conseguiram simplificar bem a sua mensagem relativamente ao seio da inveja :)

    Cumprimentos

    ResponderExcluir
  4. Parabens pelo texto .. Muito bem colocado....

    ResponderExcluir

 
Toggle Footer