sábado, janeiro 21, 2012


                Boa noite amigos de blog!

                Depois de muito tempo sem publicações, inicio algumas publicações que surgem de uma necessidade eu diria “cotidiana” que foi se desenhando em conversas, principalmente com uma amiga, que aqui vou chamar de Lita (e eu acho que ela vai gostar xD) sobre a psicologia para não psicólogos. Sempre em conversas informais, fazemos alguns desenhos verbais sobre diferentes epistemes da psicologia (psicanálise, behaviorismo, psicologia analítica) através de situações e dúvidas do cotidiano, de um modo que eu acredito ser bem mais simples e inteligíveis do que das linguagens científicas e dos manuais de psicologia.
                Onde quero chegar: Em uma série meio em prosa, meio em verso, meio literária sobre as teorias psicológicas. Acho que isso tem muito a ver com a minha idéia inicial quando criei esse blog: de divulgar a psicologia, principalmente para não psicólogos, até por que já me é comum escutar das pessoas, “o que um psicólogo faz? Como funciona? Que jeito é isso?”. Tentando responder de um jeito mais simples essas dúvidas começo com um texto sobre psicanálise, bastante “blogueiro”, para agradar gregos e freudianos.

Christopher Rodrigues.



FREUDBOOK!



Dedicado a Cris, com carinho.


                Estamos vivendo a todo vapor a inovação tecnológica na casa da Lita. Depois da instalação do modem wi-fi tudo ficou mais fácil: cada um agarra seu notebook, ficamos pendurados no facebook e conversando sobre milhões de coisa ao mesmo tempo. É dinamismo que não acaba mais! Nos falta um pouco de foco as vezes, confesso; as vezes nossas conversas parecem mais associações livres...
- Associação livre? – perguntou Lita curiosa...
- Sim, a gente fala coisas aparentemente sem conexão alguma as vezes. E vale aspas no “aparentemente” por que nada é tão simples quanto parece, é como aquele jogo da TV, você diz deus eu respondo coração, mãe – dinheiro, força – luz e por aí vai. Trata-se de uma técnica criada pelo Freud desde o início da psicanálise com a intenção de captar dados inconscientes do paciente através da associação posterior dessas palavras com a história do paciente no processo de análise.
- É, parece aquelas entrevistas da Xuxa... – indagação do namorado da Lita rindo da nossa conversa. – É parece o programa da Xuxa... ¬¬’
Lita parecia cada vez mais interessada:
- Mas como assim, dados do inconsciente.... o inconsciente se manifesta...?!
- Bom vamos lá. Para o Freud o psiquismo funciona num modelo de aparelho psíquico estruturado em id, ego e superego. Basicamente, o id advém de nossas pulsões mais primitivas, mais “grosseiras”, de algum modo simboliza nossos desejos mais profundos, estranhos e irrealizáveis. É a vontade súbita de roubar a jóia cobiçada na vitrine, mas afinal, por que não roubamos? Por que existe um poderoso vigilante nesse aparelho, o superego, constantemente pronto a nos projetar culpas, ou melhor dizendo, uma angústia neurótica. Nos é estranho cometer um crime, certo? Não só isso, mas o superego é nosso eterno recalque, está sempre nos dizendo não – não devo, não faço, não posso – enquanto o id insiste que devemos ir além, possuir, realizar o desejo, transgredir... No meio dessa antítese sobrevive bravamente o ego, ou melhor dizendo o nosso eu, mediando as pulsões desses dois brigões, trazendo-as para consciência as vezes, outras recalcando. O eu é a nossa subjetividade, pois é o modo como se articula esse aparelho psíquico em cada um de nós.
                Freud descreveu isso e percebeu que na análise existem “táticas” em que o superego pode falhar na sua vigilância e o ego pode fazer passar algumas coisas para consciência que não “deviam”. Isso emerge nas fantasias, sonhos e associações livres do paciente. Nesse jogo de palavras, aparentemente simples, Freud conseguia captar coisas sobre o analisando que ele não diria claramente, articulado numa frase lógica. Por isso a vertente psicanalítica está muito associada na arte a vertentes surrealistas, ao cinema no-sense, pois essas correntes louvam esse funcionamento simbólico do inconsciente, cabendo ao analista articular, compreender e analisar essas informações.
                - Os sonhos também são simbolizações inconscientes?
                - Sim Lita! – eu estava feliz pela nossa conversa – Em 1900, mesmo ano da invenção do cinema, Freud publica “A interpretação dos sonhos”. O que cabe um adendo: esse foi o título da publicação nos Estados Unidos, a mesma publicação que deu origem a tradução para o português. Considera-se que em alemão o título usado por Freud, Die Traumdeutung, estaria mais próximo de uma “significação” dos sonhos, o que particularmente faz mais sentido, já que Freud não propõe um “manual” de interpretar sonhos, mas sim “pistas” na teoria psicanalítica para compreender a importância dos sonhos na psicanálise. O psicanalista Bruno Bettelheim comenta um pouco isso no livro “Freud e a alma humana”.
                Bom, o que é importante é que os sonhos são “versões” de conteúdos do inconsciente na teoria psicanalítica. O que quero dizer: As vezes para um paciente é demasiadamente insuportável a idéia de odiar a própria mãe, por exemplo, o ego consciente não admitiria isso, contudo, esse contudo está aqui em nossa suposição, presente no inconsciente. Então o paciente, em determinado tempo passa a ter sonhos recorrentes em que bate em uma mulher, ou recusa uma mulher ou sem querer atropela uma mulher, uma senhora algo assim... Através dos dados que o analista já tem, partindo dessa hipótese esse sonho pode simbolizar essa raiva da mãe no caso, recalcada no inconsciente. Usei a mãe, mas poderia ser qualquer outro exemplo, é só um caso hipotético...
                Lita pensando:
                - Nossa, vou começar pensar melhor se eu estiver atropelando alguma mulher nos meus sonhos... – Ela compreendeu, com devido bom-humor, enquanto abria uma foto do Freud publicada no facebook – Sabe o que eu não entendo... O Freud não sorria cara! Ele era muito mal-humorado! Nem um sorrisinho na foto...
                - Acho que ele tinha seus motivos viu... Freud tem uma história bem... amarga eu diria! Vou explicar... – Fui interrompido pelo som da TV:
                - Galera, vamos ver outro episódio de FRINGE! Vai começar... – era o namorado da Lita. Nossa conversa continuaria um outro dia, enquanto fomos para TV, assistir um pouco o sonho dos outros.

3 comentários:

  1. Aaaahhhh *-*
    Pouco sabia sobre seu blog, agora vou seguir pra ficar por dentro e ir lendo devagar.
    Adorei a conversa XD rs

    Chrixx, amo você! sz

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  2. Muito bom, acho que nosso projeto será muito pertinente... Vamos psicologizar esse povo rsrsrs

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