segunda-feira, maio 07, 2012



O primeiro ano de vida segundo (NEUMANN, 1980), deve ser considerado uma extensão embrionária e a criança depende totalmente dos cuidados maternos tanto física quanto psiquicamente. A mãe se constitui como um mundo inteiro. Isso é denominado, relação-primal mãe-bebê ou fase urobórica. A partir de então a criança começa a se desenvolver até entrar no reino da cultura que envolve os costumes e a linguagem de seu grupo humano. Os passos dados em direção à cultura requer que a criança em desenvolvimento consiga lidar com certas frustrações como abandonar o seio materno e se arriscar cada vez mais para conseguir ser um ser social, portanto, em um primeiro momento ela ainda é parte do grupo, vivencia isso como uma identificação inconsciente ou participação mística.
Logo, se relacionar com outra criança ou aprender a solidariedade vendo o outro como semelhante é o passo fundamental para a entrada no mundo da cultura. Em todas as etapas do processo de desenvolvimento psicológico haverá um conflito de ordem natural sendo este inerente a condição humana. Porém, a questão para a maioria de nós se situa em saber, quando um conflito psicológico atinge o nível onde pode ser considerado uma patologia? Pois bem, muitos relacionamentos entre mãe e filho não evoluem em nossa sociedade permanecendo em um vínculo mãe-bebê. Tal relação quando se torna regressiva faz com que os cuidados da mãe enveredados a criança sejam sentidos como um entrave sobrepondo outro instinto que foi recalcado.
Para que a criança possa chegar a ser um indivíduo autônomo precisa (como em todas as tribos indígenas) de um ritual de passagem, uma situação que deve marcar o fim de uma etapa e o início de outra. Eric Neumann (1980) chamou essa nova etapa de fase solar do ego marcando a entrada da criança no mundo masculino onde para conseguir ser amado precisa buscar o próprio valor nas virtudes de honra, coragem e caráter. Sem essa transição a criança fica situada em um reino matriarcal terrível onde o vínculo materno já não produz influências positivas, mas muito mais negativas onde a raiva e o protesto tomam conta do campo vivencial da criança contra o social. Assim ocorre uma experiência de ligação desligada com a mãe, o filho serve aos propósitos inconscientes dela (compensando o amor de um homem), ela vive uma relação eu-isso com o filho e este reproduz essa mesma relação com o mundo social podendo beirar a psicopatia.
Antes de a nossa criança conseguir manter uma relação saudável com o mundo social, primeiro ela além de passar por um ritual de passagem para o arquétipo do grande pai, deve ter condições de realizar essa transição. Para isso é preciso que a mãe tenha tido uma boa relação com o pai ou esteja consciente do que provoca algum problema. Assim como nos mitos e lendas onde Maria intercede pelo filho junto ao Pai (Deus), também deve ser no plano vivencial. A Mãe deve ter uma boa relação com seu Animus (masculino) no sentido de poder ser e passar para a criança a positividade dos valores do herói. Valores como coragem, determinação, disciplina, limites e aceitação dos seus fracassos. Para a criança sentir que pode fracassar, deve sentir que também será acolhida quando isso ocorrer, mas ao mesmo tempo deve sentir que se não caminhar com as próprias pernas sempre irá fracassar. Tal desenvolvimento psicológico pode ser considerado como uma boa relação entre mãe e filho. Neste plano lunar-feminino a idéia de que podemos buscar e desbravar novos horizontes é possível já que sempre haverá um retorno a morada primeira. Já na fase solar da consciência em que o pai entra trazendo seus valores luminosos e racionais (onde também há o perigo de se perder em uma rigidez), a criança não deve fracassar porque deseja conseguir provar seu valor diante do pai.  O amor de pai é esse, pelos valores espirituais e ético-morais. Quanto maior o caráter do sujeito, ou seja, quanto mais definido este for a suas escolhas e implicações com estas, mais amado será. Só após vivenciar essas duas dimensões, lunar e solar, a criança estará apta a lidar com a relação entre elas. Se alguma dessas experiências não tiverem sido realizadas suficientemente as relações se tornam dependentes e patológicas.

           Portanto, o conflito patológico é aquele que suprime as forças do ego, dissolve o mesmo e impede que a criança consiga manter sua consciência e orientação intactas. O Ego deve viver sobre conflitos não sob conflitos. Quando isso ocorre significa que para que haja uma ligação satisfatória, deve ocorrer uma vivência de reatualização das partes opostas da personalidade, ser possível viver um pai ou mãe que possam dar o que realmente faltou (o psicólogo serve muito bem a isso). Se uma pessoa consegue se desvincular de outra vivenciando um luto temporário é possível dizer que esta, consegue lidar com suas ambivalências afetivas de forma saudável. Ou seja: “Ansiar pelo impossível (tendo) raiva desmedida, choro impotente, horror ante a perspectiva de solidão, suplicas lastimosas por compaixão e apoio...” (BOWLBY, 2006, p. 131.)sendo estes os sentimentos de uma perda. E também se desorganizar e se reorganizar novamente, conseguindo a vivência do luto tal qual uma boa constituição em seus relacionamentos, é necessário a todas as pessoas para que possam superar a perda. Não só na morte, mas no distanciamento de um ente querido tal vivencia deve ser possível e expressa significando que se uma pessoa consegue se desvincular de alguém, é porque há a possibilidade de um vínculo autêntico e maduro.  


2 comentários:

  1. A relação familiar é uma das mais importanes existentes na vida do ser humano. Por mais moderno que a sociedade se identifique esta relação nunca vai sair de moda. Nada na vida pode substituir estas relações familiares saudáveis. Nenhum sucesso pode ofuscar a importância da família. Quando nasce uma criança também nasce um pai e uma mãe e se a associação entre eles não for saudável tudo começa a ser patológico. E o que vemos hoje em dia é que esta união está cada vez mais dificultada por se desenvolver atitudes de desunião... Quando valores de vida é considerado obsoleto o problema começa. É como um virus incubado que está esperando condições favoráveis para nascer... O exemplo é a chave para o sucesso!

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  2. As causas da fobia social estão baseadas na construção de vida da pessoa, ...... Então eis aí uma boa definição do que acontece na fobia social?

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